miércoles, 25 de noviembre de 2009

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Ebook Issuu: O Sociólogo e a Sociologia











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domingo, 15 de noviembre de 2009

A individuação como problema de sociologia da literatura


A individuação como problema de sociologia da literatura


por

Jacob (J.) Lumier

O termo “individuação” foi adotado nas teorias metapsicológicas por influência de Schopenhauer [1], que fala do principium individuationis. Em geral, o conceito é utilizado para denotar o processo pelo qual uma pessoa se torna ‘in-dividual’, afirma uma unidade indivisível ou um ‘todo’.

Em sociologia, o principium individuationis tornou-se objeto de estudo depois que, nos anos de 1920, os seguidores do culturalismo abstrato do filósofo Heinrich Rickert – dentre os quais Max Weber – insistiram no indivíduo e no individual como foco das significações, e estudaram o mundo histórico como essencialmente singular, tomando-o como cultura histórica que se individualiza.

Deste ponto de vista, a afirmação do indivíduo como um todo, verificando-se no mundo histórico, ultrapassa os limites psicológicos dos estudos sobre desenvolvimento da personalidade, e surge como o princípio de individuação da cultura histórica.

Será esse princípio que a sociologia verificará como problemático na literatura, notadamente no gênero romanesco.

Sem embargo, em sua postura metodológica e visando compreender, ajuizar e classificar as obras com valor estético, o sociólogo toma o fato literário como não-reduzido às significações, sejam estas culturais, sociais, psicológicas.

A significação é frequentemente considerada como atributo de uma visão de mundo mais ou menos coerente. Se fosse tomada como único critério estético diminuiria os escritores, tornando-os insignificantes em face dos pensadores.

Por contra, em seu ponto de partida, o sociólogo toma o objeto literário como configuração de valor, na qual não é somente certo número de idéias que se encontram dotadas da máxima eficácia estética, mas também certo número de emoções.

Desta forma, ao se orientar para a apreensão do desejado em literatura, o sociólogo assume um ponto de vista interior ao fato literário, trazendo para o campo sociológico as experiências individuais indiretas e variadas de todos os subterfúgios, achados, disfarces, fugas, simulações, etc.

Isto não quer dizer que os ensinamentos sejam desprezados em favor da fantasia. Se as experiências literárias podem aportar alguma "lição", importa que os indivíduos reconhecem tais experiências indiretas porque, em sua engenhosidade, delas se ocupam.

Em relação à sociologia da literatura do século XX, há um aprofundamento no individualismo para focar-se na própria individuation burguesa, na possibilidade mesma do que constitui ou diferencia um indivíduo de outro indivíduo em contexto de alienação.

Admite-se que a objetivação do humano nas estruturas correlaciona-se ao surgimento da subjetividade, como aspiração aos valores que, entretanto, resta em estado de aspiração, compreendendo uma cultura difusa, vaga, sem pertença, uma cultura que não se individualiza.

Daí a simples subjetividade como pensamento letargado, perplexo, chegando à ataraxia, a qual não deve ser confundida às alienações mentais subjetivas, esquizofrenias ou delírios patogênicos em face da realidade, frequentemente provocados no envolvimento do indivíduo em alternativas irreconciliáveis para o sentimento de felicidade.

Embora haja domínio conexo entre a estética sociológica e as teorias metapsicológicas, o alcance crítico da sociologia literária sobressai.

Tanto que, ao pesquisar a composição romanesca em seu contexto de alienação, o sociólogo observa que a busca da individuação é colocada diante da coisificação não somente como (a) condição da ruptura libertadora – portanto condição negativa –, mas (b) como forma positiva, isto é, forma que torna objetivo o trauma subjetivo (torna objetiva a consciência desprovida de auto-afirmação).

Tal o sentido positivo da coisificação – formulado acima no "item b" – para a busca da individuação em literatura romanesca: forma do caráter de mercadoria assumido pela relação entre os homens.

Daí a idealização de um retorno à memória da infância, que fixa um tempo perdido, quase uma tendência à introspecção, ao fechamento, de que nem Proust nem mesmo o freudismo escaparam.

Tanto que T. W. Adorno equiparará na arte de avant-garde a caída da consciência [2], uma vez desprovida de auto-afirmação em um conteúdo particular, à caída do sujeito individual como engenho[3], lembrando a imagem de mônada leibntziana, fechada, sem janelas, mas que, na perspectiva artística, deve ser referida ao foco irradiador da narrativa de Kafka, por exemplo, ou, no dizer mesmo de Adorno: “a mônada sem janelas prova ser lanterna mágica, mãe de todas as imagens, como em Proust e em Joyce[4].

Individuação e Dialética

Seja como for, a sociologia da literatura e do gênero romanesco será estudada neste nosso ensaio à luz da promessa humanista da civilização, que afirma o humano como incluindo em si, juntamente com a contradição da coisificação, também a coisificação mesma.

Entendemos que, do ponto de vista sociológico em geral, a individuação pode ser alcançada sim, para-além de toda a mistificação espiritualista da introspecção, mediante a reflexão com dialética.

Em teoria sociológica, o materialismo e o espiritualismo não passam de abstrações do esforço humano. A consciência faz parte das forças produtivas em sentido lato e, nas correlações funcionais, desempenha um papel constitutivo dos próprios quadros sociais, seja como linguagem, seja pela intervenção do conhecimento, seja ainda como direito espontâneo.

Como se sabe, esses quadros sociais são chamados por Marx de “modos de ação comum”, ou modos de colaboração, ou ainda relações sociais, nas quais, além da imanência recíproca do individual e do coletivo, se incluem as manifestações da sociabilidade, os agrupamentos particulares, as classes sociais e as sociedades globais.

O significativo aqui é que esses quadros sociais exercem um domínio, um envolvimento sobre a produção material e espiritual que se manifesta no seu seio, domínio esse que por sua vez é exatamente o que se prova nas correlações funcionais.

Quanto às ideologias, ficam excluídas das forças coletivas ou produtivas por representarem uma “mistificação”: a alienação do conhecimento desrealizado e perdido nas projeções para fora, que inclui as “falsas representações coletivas”, em que os homens e as suas condições surgem invertidos, como numa câmara fotográfica [5].

Como nota Georges Gurvitch [6], na dialética dos níveis de realidade social os quadros sociais e a consciência real são produtos das forças produtivas strictu sensus – isto é, podem ficar objetivados – mas, sob outro aspecto, são igualmente os seus produtores, e assim, por essa reciprocidade, se afirmam como elementos reais da vida social.

Tal é o ponto de partida da dialética sem a qual não poderá passar a reflexão de que depende nossa afirmação e individuação humana [7].

***


[1] A. Schopenhauer 1788 —1860, filósofo.

[2] Caída da consciência no sentido de redução da função representacional.

[3] Quer dizer, com a arte de Kafka trata-se de subtrair a análise do psiquismo, não para ficar junto ao sujeito da Psicologia, mas para confrontar o especificamente psicológico notado na concepção que “faz derivar o indivíduo a partir de impulsos amorfos e difusos”, isto é faz derivar o Eu do Id (Isto), convertendo-o de entidade substancial, de ser em vigência do anímico, em “mero princípio de organização de impulsos somáticos”, em engenho (astúcia, destreza, ardil).

[4]Ver: Adorno, T.W.: “Prismas”, tradução Manuel Sacristán, Barcelona, Arial, 1962.

[5] Segundo Gurvitch, configurando um fenômeno de psicologia coletiva tipificado na mentalidade dos economistas estudados por Karl Marx, a consciência burguesa é uma consciência mistificada ou ideológica porque está impregnada pelas representações características de um período particular da sociedade, em que a primazia cabe às forças materiais. Ver Gurvitch, Georges (1894-1965): “A Vocação Actual da Sociologia –vol.II: antecedentes e perspectivas”, tradução da 3ªedição francesa de 1968 por Orlando Daniel, Lisboa, Cosmos, 1986, 567 pp. (1ªedição em francês: Paris, PUF, 1957): pág. 347 sq.

[6] Gurvitch, Georges: “A Vocação Actual da Sociologia – vol.II, op.cit.págs.294/5.

[7] Em filosofia da ciência, a individuação implica um método para atingir o real. Na individuação mecânica, por exemplo, cada objeto individual, no caso cada sólido (objeto de lei mecânica), sendo concebido como entidade separada e distinta, era conhecido por sua localização no espaço e no tempo. Por sua vez, os objetos de uma lei estatística de que trata a epistemologia da microfísica podem ser dados por um método de individuação no qual as qualidades individuais se definem por integração no conjunto, de tal sorte que um membro do grupo (de átomos, neste caso) é tão apropriado quanto qualquer outro para satisfazer certas condições que os distinguem dos objetos exteriores. Ver Bachelard, Gaston: “O Novo Espírito Científico”, São Paulo, editora Abril, 1974, coleção “Os Pensadores”, vol.XXXVIII, pp.247 a 338 (1ª edição em Francês, 1935).




sábado, 3 de octubre de 2009

Na Trilha da Cultura do Compartilhamento: comunicação social e sociologia do conhecimento

Artigo de Jacob (J.) Lumier divulgado junto ao OpenFSM


Na medida em que se trata da apreensão do ciberespaço como redes de redes, a Teoria de Comunicação Social se insere no contexto da cultura da tecnologia como fenômeno social global levando ao surgimento da sociedade de informação e por esta via consagrando o princípio de virtualidade real, de que nos falou Manuel Castells (Castells, 2003) [3].

A Teoria de Comunicação Social dá expressão ou reflete esse processo de formação, e o faz voltada para a indústria cultural (esta é mais antiga, vem dos anos vinte) que é um dos setores dessa cultura da tecnologia (em inelutável expansão inelutável desde os anos cinqüenta).

A sociedade de informação é uma unidade coletiva surgida com o desenvolvimento tecnológico, cuja obra a realizar é o desenvolvimento das tecnologias da informação, para o que, conforme assinalou Vicente Ortega em artigo de TELOS em 2004, articula os três âmbitos mencionados por Arnold Pacey no livro The Culture of Technology, publicado en 1983.

Vale dizer, as relações entre as tecnologias e as sociedades dão lugar a um sistema combinando tres ámbitos o aspectos: el científico-técnico, el organizacional y el cultural.

El primero aspecto incluye el conocimiento científico-técnico experimental, los procedimientos y habilidades técnicas, las fuentes de energía, los recursos naturales, las máquinas, aparatos y herramientas, etc.

El segundo ámbito engloba los conocimientos y las actividades económicas y empresariales, sindicales y profesionales, las administraciones públicas y organizaciones de consumidores y otros aspectos parecidos propios del mundo de la economía, los servicios y la gestión.

Por último, el ámbito cultural comprende aspectos más generales e indefinidos como los fines, los valores, las creencias, las costumbres, las ideas de creatividad, riesgo, progreso, etc., que constituyen el caldo de cultivo predominante en una determinada sociedad.

Do ponto de vista assim localizado, a sociedade de informação aparece como instância do “desarrollo tecnológico sostenible de las tecnologías de la Información”, sendo representada em seus fins ideais (1)-como foco de “nuevos tipos de información y nuevos servicios que contribuyen a un cambio de hábitos culturales que tienden a modificar los comportamientos sociales”; (2)-como un “estadio del desarrollo de la sociedad caracterizado por la capacidad de sus miembros –individuos, organizaciones e instituciones– para crear, procesar, comunicar, obtener y compartir libremente cualquier tipo de información, en cualquier lugar y en cualquier momento”; (3)- a que se conjugam, como necessárias, “las infraestructuras, sistemas y servicios de telecomunicaciones e informática, es decir las tecnologías propriamente ditas[4].

Portanto, a sociedade de informação em seu caldo de cultivo, afirma uma ideologia ou um discurso como expressão de seu vínculo estrutural e recíproco ao desenvolvimento das tecnologias da informação.

É desse “caldo de cultivo” que, como veremos adiante, participa a Teoria de Comunicação Social na medida em que, por sua vez, se afirma dentro da sociedade de informação e não vê as sociedades além desta, como o pluralismo cultural e lingüístico, por exemplo, que escapa ao seu domínio intelectual.

A sociedade de redes de informação é um aprofundamento na cultura da tecnologia (consagra como foi dito o princípio de virtualidade real). Todavia é preciso levar em conta que a apreensão do ciberespaço, base dessa cultura da tecnologia, não se dá indiferentemente aos conteúdos sociais comunicados.

Nem é indiferente aos temas percebidos (como as próprias relações entre tecnologias e sociedades), às línguas ou às significações nelas e por elas apreendidas.

Na verdade da experiência humana as criações e os produtos segregados no ciberespaço como virtualidades reais desdobram-se desses conteúdos, desses temas percebidos, ainda que se possa observar o surgimento da atividade de “conteudista de software” invertendo aparentemente a ordem das funções, mas consagrando a prioridade e a anterioridade dos conteúdos comunicativos.

A Teoria de Comunicação Social, como discurso da cultura da tecnologia voltado para apreciar as situações surgidas nas redes de redes, trata seu objeto (a mensagem, o mediu, a mídia) sem considerar as línguas em que as informações são comunicadas em texto, nem a determinação que a particularidade das línguas impõe aos conteúdos ou constitui os conteúdos.

Dá por suposto que a língua dos conteúdos informativos é tão formal ou indiferente quanto os algoritmos da linguagem tecnológica ou digital que constitui o meio (software, por ex.). Supõe um monismo da língua nas informações.

Neste sentido, a recolocação do tema e do problema das relações entre tecnologias e sociedades, acentuando o aspecto da variedade nessas relações, passa pela discussão sobre a Teoria de Comunicação Social em face do pluralismo cultural e lingüístico.

Note-se que do ponto de vista do pluralismo há uma relativa autonomia dos conteúdos. Vale dizer, é legítimo tratar ou classificar as informações desde o aspecto temático e distinguir assim, por diferença da sociedade da informação à qual estão ligadas como as suas regiões diferenciais, as sociedades do saber, nas quais os conteúdos informativos são realçados nas classificações variadas, em face dos critérios exclusivamente tecnológicos ou das situações econômicas típicas resultantes das dinâmicas das redes de redes na Internet.

O pluralismo cultural e lingüístico torna possível perceber ou dar expressão às relações entre tecnologias e sociedades com anterioridade ao sistema da cultura da tecnologia (os três âmbitos mencionados), isto é, como sendo um conjunto de relações que não se reduz ao nível do que é produzido nesse sistema, mas introduz um princípio de variabilidade no mesmo. Tal o quadro de referência que permite uma apreciação crítica das premissas na Teoria de Comunicação Social.

Deste ponto de vista, podemos constatar que o estudo das relações entre tecnologias e sociedades sendo feito com atenção ao pluralismo leva a assinalar não só várias ambigüidades no sistema da cultura tecnológica, mas, por esta via, permite realçar certas alterações na linha do desenvolvimento das tecnologias da informação.

Lembre-se a este respeito que: “la posición de fuerza de los medios de comunicación en el comercio externo está relacionada, por un lado, con la buena comercialización de sus productos (cine, radiotelevisión, vídeo) y, por otro, con la capacidad que tienen éstos para generar audiencias sobre la base de una relación calidad/precio competitiva. Pero en ambos casos dependen en su mayor parte de las características del mercado interno”.

Como se sabe, “El año 2001 estuvo marcado por un neto decrecimiento del mercado mediático tras diez años de continua expansión. La causa principal fue la reducción de un 6,2 por ciento de la inversión publicitaria La crisis alcanzó al uso instrumental de los productos de la industria del copyright pero no a su mercado de consumo, que en su mayor parte continuó creciendo. A pesar de la fuerte caída de las inversiones publicitarias –que no se había registrado de forma tan pronunciada desde la II Guerra Mundial- el gasto de los consumidores en medios de comunicación continuó creciendo, registrando un aumento del 6,5 por ciento con respecto al año precedente” (cf. Richeri, 2004).

E Richeri prossegue: “La importancia estratégica de las industrias del copyright no solo se debe a que se trata de uno de los segmentos más dinámicos de la economía estadounidense, o al hecho de que hoy parece desempeñar, en el desarrollo económico general, el mismo rol que la industria pesada en épocas pasadas. Su importancia se debe sobre todo al hecho de que esta indústria ha alcanzado un nivel de expansión internacional muy elevado, y al hecho de que sus productos –mucho más que cualquier otra clase de producto– se caracterizan por su doble valor económico y socio-cultural”(ib.ibidem). E este autor mencionado nos lembra ainda que a relevância dessa última característica “es evidente si se tienen en cuenta las iniciativas que la Unión Europea está tomando para reforzar la competitividad de sus productos y para elevar las barreras de entrada a los productos norteamericanos” (ib.ibidem).

Constata-se a vulnerabilidade da indústria do copyright: como consecuencia del uso de Internet para intercambiar y distribuir gratuitamente ‘entre pares’ (peer to peer) nas redes P2P, atingindo não só aos CD musicais, mas, “con el desarrollo de las redes de banda ancha, a otros sectores como el de la industria cinematográfica” (ib.ibidem).

Desta forma, chega-se à conclusão de que “estas nuevas formas de liberación espontánea de los flujos internacionales de “información”, como consecuencia del desarrollo de las redes y servicios de telecomunicaciones, plantea nuevos problemas al menos sobre dos frentes: el de las empresas que poseen y gestionan el copyright y ven amenazados sus ingresos; y el no menos importante relacionado con el incremento de los desequilibrios en los intercambios internacionales, los cuales se profundizarán a través de las nuevas redes y serán difíciles de evaluar y regular, como lo viene intentando la Unión Europea desde hace tiempo”(ib.ibidem).

De fato, é neste ponto que a Teoria de Comunicação Social encontra o tema que lhe dá projeção como teoria conjetural. O estudo das redes de redes introduz na sociedade de informação um quadro diferencial que exige uma apreciação mais ou menos profunda para ser compreendido.

Aos olhos da Teoria de Comunicação Social os programas peer-to-peer (P2P), como eMule, Gnutella, eDonkey, BitTorrent e outros tantos permitiram que, de conteúdos compartilhados nos servidores, a rede se estendesse desde a base dos 340 milhões de computadores ligados à rede (junho de 2005) para os computadores pessoais dos usuários da rede, ou seja, estendendo o intercâmbio de conteúdo para outras 910 a 940 milhões de máquinas em uso (eTForecast, 2005). Trata-se de uma quantidade gigantesca de informação que flui de forma descentralizada e frenética pela rede (apud Machado, 2005).

No estudo dessa situação da indústria cultural na sociedade de informação e por efeito desta, a Teoria de Comunicação Social não só nos oferece:

(a) - uma descrição da mentalidade no círculo social dos administradores e usuários das redes de redes, à qual chama “cultura do compartilhamento”, mas, por esta via, sem esclarecer sobre as competências próprias às tecnologias, nos deixa ver:

(b) - uma noção do conhecimento como conteúdo impresso ou gravado e comunicado nos produtos da indústria cultural (o que nos anos sessenta e setenta chamava-se “mensagem” - o meio é a mensagem), bastante submetida ao ponto de vista da tecnologia da informação e ao aspecto quantitativo;

(c) – além disso, a Teoria de Comunicação Social põe em relevo as mudanças verificadas no complexo sistema de produção, distribuição, logística, planejamento que envolvia as relações entre o produtor / autor e o consumidor na indústria cultural.

Quer dizer: tomadas em conjunto, as tecnologias da informação e comunicação e a dinâmica da Internet, tanto pela introdução do suporte virtual quanto pela expansão das redes “P2P”, tiveram várias conseqüências levando a quebrar o elo em torno da função de fazer o conhecimento / informação / mensagem chegar ao cidadão / consumidor, que, muitas vezes, era uma função assumida pelas editoras e gravadoras com suporte convencional.

Uma dessas conseqüências foi de colocar em xeque a propriedade do conhecimento, pois “qualquer obra humana que possa ser convertida em bits pode ser reproduzida indeterminadas vezes e facilmente distribuída”; em face dessa qualidade, inverteu-se o procedimento da comercialização passando-se a falar mais em “vender o suporte do que a informação”, tendendo-se a “pagar apenas pelos átomos”; além disso, observou-se o surgimento, nesse âmbito digital, de uma comunhão de bens culturais, técnicos e científicos considerados ‘públicos’ (...) em que “o único constrangimento para a reprodução, distribuição deve ser o controle do autor sobre a integridade de seu trabalho e o direito de sua propriedade intelectual e devida citação” (ibidem Machado, 2005).

Deste modo afirma-se a exigência em rever os papéis econômicos, para o que a Teoria de Comunicação Social sugere que o contexto configurado pelos programas peer-to-peer (P2P) seja tomado como modelo. Estaríamos diante de um contexto em que “a informação e, principalmente, o conhecimento são tanto insumos como produtos cada vez mais importantes para a produção cultural, econômica, artística, intelectual e, assim, para o desenvolvimento econômico e social”, estabelecendo-se a configuração de “um novo paradigma da difusão e construção do conhecimento”, o qual seria observado no “compartilhamento através das redes de criação e inovação”.

Nos termos da Teoria de Comunicação Social esse modelo principal de análise e interpretação é o seguinte: “O compartilhamento do conhecimento tem sido a base da inovação e da produção de novos conhecimentos. As modernas tecnologias de informação e comunicação proporcionam ferramentas inovadoras para o intercâmbio de conhecimento em nível global e em tempo real; consolida-se cada vez mais uma cultura do compartilhamento, baseada principalmente nas comunidades de interesses e, cada vez mais, na troca entre particulares – nas redes do tipo P2P” (ibidem Machado, 2005).

Na realidade, o que a Teoria de Comunicação Social quer dizer quando nos fala de um novo paradigma de construção do conhecimento não é tanto o fato de que as tecnologias da informação possibilitam que o conhecimento técnico seja construído em seus conteúdos lógico-numéricos pelas próprias ferramentas tecnológicas, ou que as tecnologias sejam construídas pelas próprias tecnologias (os computadores constroem computadores, robôs constroem robôs), mas, simplesmente, que, ao quebrar-se o elo convencional em torno da função de fazer o conhecimento/informação/mensagem chegar ao consumidor, a difusão desse conhecimento, tal como disponibilizado na indústria cultural, passa a sofrer os efeitos das redes de redes, de tal sorte que “o compartilhamento desse conhecimento tem sido a base da inovação e da produção de novos conhecimentos”.

Portanto, a noção de “construção” do conhecimento é empregada no sentido preciso de que o conhecimento / informação / mensagem não é mais imposto desde cima pela indústria cultural, mas o usufruto do mesmo como conteúdo impresso / gravado socialmente comunicado resulta do círculo dos administradores e usuários das novas tecnologias da informação, sobretudo do compartilhamento e das trocas entre os particulares decorrente das novas redes de redes P2P.

Admite-se, então, que esse conhecimento / informação / mensagem assim difundido e desfrutado em redes de redes introduz novas referências para a compreensão dos papéis na indústria cultural, já que, por sua vinculação direta aos meios tecnológicos de difusão da informação, ou como extensão desses meios, sobretudo pela magnitude do seu volume e rapidez, adquire um valor econômico próprio que anteriormente não se verificava.

Daí falar-se em conhecimento-insumo e em conhecimento-produto para chegar a uma análise dessa situação em que, como foi dito, “uma quantidade gigantesca de informação flui de forma descentralizada e frenética pela rede”.

Quer dizer, trata-se de uma configuração particular do conhecimento técnico como atividade de selecionar e classificar as informações recebidas das redes com o fim de fabricar, confeccionar ou elaborar produtos que retornem as informações para as redes, num encadeamento sucessivo e ininterrupto, no qual toda a informação já é um conhecimento técnico, já é uma atividade de selecionar e classificar informações em redes.

Esse conhecimento é então tornado informação por seu estatuto duplamente instrumental nessa corrente circular (a informação como conhecimento-insumo e conhecimento-produto e vice-versa) e todo o consumidor / usuário vem a ser de alguma maneira autor / produtor cultural e vice-versa, com todos esses papéis revertendo em benefício do desenvolvimento sustentado das próprias tecnologias da informação. Tal o seu valor econômico.

Portanto, a novidade não é tanto o incremento do conhecimento técnico, que já é predominante nos tempos modernos, mas, sim, a mudança dos papéis econômicos na indústria cultural em decorrência desse incremento, os quais, como dissemos, passam a reverter em benefício do desenvolvimento das tecnologias da informação / comunicação, pressionando não só a indústria cultural, mas toda a indústria do copyright.

A Teoria de Comunicação Social sofre, pois, os efeitos dessa pegada das tecnologias da informação /comunicação e nos deixa ver seu componente discursivo na sua própria maneira de formular tal configuração particular de um conhecimento técnico com acréscimo de valor no sistema cognitivo.

Ela o representa em termos de “conhecimento-insumo” e de “conhecimento produto”, e promove desse modo, nessa representação, os valores do utilitarismo (não é tanto o conhecimento que importa, mas a utilidade da atividade classificadora –como insumo-- para o desenvolvimento das tecnologias da comunicação, considerado como um progresso benéfico).

Vale dizer, a Teoria de Comunicação Social posiciona-se em face da potenciação do conhecimento técnico como atividade classificadora em redes, diretamente exercida no prolongamento das próprias tecnologias da informação e em benefício do desenvolvimento destas - o que, portanto, pode ser definida como uma atividade tecnológica.

Desta forma, cabe indagar se a Teoria de Comunicação Social, ao conceituar tal atividade classificadora em redes como conhecimento-insumo – um valor econômico ou sócio-econômico – não estaria incorrendo numa projeção pelo utilitarismo para o domínio dos símbolos sociais daquela potenciação do conhecimento técnico?

Formulando de outro modo: não estaria revalorizando uma “noção tecnológica do conhecimento” (atividade tecnológica impulsionando o desenvolvimento das próprias tecnologias da informação) ao invés de sua compreensão sociológica?

Em conseqüência, no sentido dessa noção tecnológica do conhecimento, e antes de configurar um fenômeno de comportamento, a “cultura do compartilhamento” seria o modo pelo qual o desenvolvimento das tecnologias da informação se beneficia da mudança dos papéis na indústria cultural e vice-versa.

Não que a projeção pelo utilitarismo careça de procedência ou deva ser repelida como estranha ao objeto da Teoria de Comunicação Social. Pelo contrário: antes de prejudicar a mirada sobre a mídia e as tecnologias da informação, o utilitarismo moderno a favorece, na medida em que constitui uma filosofia pública preconizando que “as ações publicas só possam ser julgadas pelas conseqüências benéficas que elas possam ter” para a vida em comum.

Como se sabe, a defesa de um ‘utilitarismo liberal’ como filosofia pública é notada por alguns estudiosos como uma idéia que já pode ser encontrada em John Stuart Mill. Admitem-se as seguintes orientações:

(a)-que o fato do utilitarismo não incentivar “o cumprimento indiscriminado de promessas e a expressão da verdade”, embora seja fatal no nível social, seria pelo menos aceitável no nível político-público;

(b)-que a noção vaga de “felicidade” ali adotada seria um modo de criar “um espaço de negociação entre interesses diferentes e conflitantes, respeitando as tendências pluralistas das sociedades contemporâneas”, tanto mais que “a variedade das escolhas aumenta a possibilidade da felicidade, principalmente numa sociedade pluralista”;

(c) – que o utilitarismo das ações ao nível moral é ineficaz e tem resultados contra-intuitivos [o imperativo de que cada ação deva ser ponderada de forma que maximize a felicidade do maior número não garante contra os abusos].

(d) - que o utilitarismo liberal é um utilitarismo político que pode (deve) ser eficaz e cujos resultados contra-intuitivos são bloqueados pela sua vertente liberal.

Por fim, admite-se que as idéias de democracia, progresso e de direito à escolha são três idéias enraizadas na cultura pública que podem ser explicadas em termos utilitaristas [a democracia pode ser vista como uma espécie de Utilitarismo aplicado, na medida em que, sendo o governo da maioria, defenderá os interesses do maior número].

Assim sendo, o utilitarismo liberal está longe de ser uma proposta inconsistente e a idéia de que uma das funções da política é promover o bem-estar humano encontra nele uma justificação teórica adequada ([5]) (Cf. Bizarro, Sara: 2001).

Do ponto de vista da sociologia, o termo conhecimento não é utilizado para representar atividade de outra ordem (como a inteligência artificial, no sentido amplo deste termo) nem encobre afirmação de valores morais ou filosóficos. Do que foi dito acima, a atividade de selecionar e classificar as informações recebidas das redes com o fim de fabricar, confeccionar ou elaborar produtos que retornem as informações para as redes é com certeza conhecimento técnico.

Todavia, se essa atividade assimilando um incremento de ordem tecnológica pode ter o efeito de beneficiar o desenvolvimento sustentado das próprias tecnologias da informação e vice-versa é um valor sócio-econômico que já extrapola e é exterior ao nível do conhecimento propriamente dito, ainda que ao mesmo apareça acoplado. A atividade que se desenrola em prolongamento da ferramenta tecnológica incorpora um incremento (“accroissement”) estranho aos juízos cognitivos.

Ainda que, na sua simbolização como compartilhamento, se possa falar de uma “apreensão” indireta relativamente ao ciberespaço, está claro que, sendo este último uma extensão dos conteúdos única e exclusivamente lógico-numéricos, não se trata das amplitudes concretas apreendidas na experiência humana, base dos objetos do conhecimento, haja vista a parte que cabe às máquinas inteligentes em tal “apreensão”, ou melhor, interação cibernética.

A sociologia do conhecimento como disciplina das Ciências Humanas já mostrou que a capacidade cognitiva de encontrar correlações e tirar inferências gera-se no espaço da sociabilidade - verificado e confirmado pelo coeficiente existencial do conhecimento de que nos falará Gurvitch na “Segunda Parte” deste ensaio (ver adiante).

É no espaço da sociabilidade, ou melhor, nas amplitudes concretas da percepção coletiva que está mergulhado o mundo exterior, espaço que já é apreendido nos Nós, forma de sociabilidade esta última que, por sua vez, constitui o primeiro foco da experiência humana (ver: Gurvitch, 1962).

De fato, em acordo com esta orientação, na elaboração da explicação em sociologia, o sociólogo descreve e aplica os diversos procedimentos relativista-dialéticos de intermediação que ele encontra na própria realidade social descoberta, para fazer ressaltar o acordo ou desacordo do conhecimento em correlações funcionais com os quadros sociais.

Essa atitude de descrever correlações exclui qualquer “invencionismo” e não induz a “deformação” alguma, mas pode certamente favorecer a diminuição da importância do coeficiente existencial do conhecimento pela tomada de consciência. A liberdade humana como escolha, decisão ou criação, antes de se limitar ao indivíduo, em particular ao sociólogo, se afirma também nas manifestações coletivas as quais, elas mesmas, estruturam a realidade social que por isso não pode ser mais do que “descoberta” pelo sociólogo (e não inventada).

***

Segunda Parte:

Em busca da sociologia do conhecimento


Un estudio calcula el esfuerzo de cada país para lograr las metas educativas de 2021

ELPAIS.com >Sociedad >Educación

El objetivo es muy concreto -dar el empujón definitivo a la educación latinoamericana para acabar con las enormes desigualdades de la región-, y ahora también el presupuesto necesario para hacerlo realidad: 55.000 millones de euros en 10 años, de 2011 a 2021. La Organización de Estados Iberoamericanos (OEI) acaba de presentar a los Gobiernos de la zona el estudio de costes para alcanzar las Metas Educativas 2021, elaborado con la Comisión Económica para América Latina y El Caribe (Cepal) de la ONU.

Un coste que puede producir mareos, pero que, según los viceministros de Educación latinoamericanos, reunidos a finales de agosto en Brasil, "a partir de los datos económicos presentados (...), es posible alcanzar las metas educativas en el año 2021, lo que supondría un avance histórico". Ese empujón, acordado de manera conjunta por todos los países, supondría acabar en una década, coincidiendo con la celebración de los bicentenarios de la independencia de los países latinoamericanos, con el analfabetismo que afecta aún a 32 millones de personas, escolarizar a los 15 millones de chavales de tres a seis años que no lo están, mejorar el acceso a la universidad o construir sistemas fuertes de formación profesional.

Por supuesto, cada país arranca de un punto de partida distinto, con poblaciones y economías diferentes, pero el informe contiene un estudio pormenorizado del esfuerzo que debe hacer cada uno, desde los 13.000 millones de euros en México o los 12.500 millones de Brasil, hasta los 186 millones de Paraguay y Bolivia o los 115 millones de Nicaragua. Para alcanzar estas cifras, si se mantuviera la prioridad macroeconómica (el mismo crecimiento en educación que en el PIB del país), faltarían todavía unos 13.400 millones para cumplir los objetivos.

¿De dónde saldrían? De aumentar todavía un poco más ese esfuerzo. En concreto, un 0,56% más del PIB en una década (de media en toda la región) para alcanzar todas las metas: los programas estrictamente educativos, los de I+D y las transferencias a los grupos vulnerables.

Para alcanzar sólo los objetivos estrictamente educativos (que requerirían 46.000 millones de euros, 40.000 sin contar España y Portugal), el esfuerzo medio sería de un 0,29% más del PIB de media. Pero, como el informe de la Cepal tiene en cuenta que el esfuerzo que pueden hacer los países no es ilimitado y ha fijado un máximo posible, habría tres que no alcanzarían esas metas: Bolivia, Honduras y Nicaragua.

De ese modo, faltarían unos 1.860 millones de euros, un poco menos del fondo solidario que prevé el proyecto de las metas educativas para ayudar a los más rezagados, establecido en 2.000 millones. La OEI prevé reunir el fondo a través de los países más ricos de la región (incluido España), más la Unión Europea (cuya presidencia ostentará España en 2010), y el Banco Interamericano de Desarrollo.

Ahora los países deberán adaptar las metas a su propia realidad y ver la manera de aportar la financiación necesaria, ya que si en algunos países la prioridad está todavía en aumentar la escolarización (Nicaragua, El Salvador, República Dominicana, Honduras y Guatemala no alcanzan a escolarizar a la mitad de los niños de tres a seis años), en otros el reto es facilitar la llegada de más alumnos a la universidad. En cualquier caso, el informe reúne también algunas propuestas para aumentar la financiación educativa, por ejemplo, mejorando los resultados: se pierden unos 12.350 millones de euros al año por culpa de las repeticiones de alumnos en primaria y secundaria.

El documento firmado en Brasil fija como fecha para el acuerdo definitivo de las metas septiembre de 2010, en la Conferencia de Ministros de Educación que se celebrará en Argentina y, posteriormente, en la Cumbre de Jefes de Estado y de Gobierno.

Aceder ao estudo

martes, 11 de agosto de 2009

Espaço Ibero-americano do Conhecimento



Dagnino, Renato
A construção do Espaço Ibero-americano do Conhecimento, os estudos sobre ciência, tecnologia e sociedade e a política científica e tecnológica

Revista Iberoamericana Ciencia, Tecnología y Sociedad nº 12

A motivação deste trabalho é a idéia de que a construção de um espaço ibero-americano do conhecimento demanda a redução do hiato existente entre a orientação da Política Científica e Tecnológica (PCT) e a perspectiva dos ECTS. Três países - Argentina, Brasil e Espanha - são analisados visando a (1) explicar porque, sendo uma das finalidades dos ECTS a introdução de sua perspectiva na agenda da PCT, através do debate público e da formação de profissionais, isto não tem ocorrido; (2) argumentar que esse hiato vem se ampliando porque os fazedores da PCT estão influenciados pelo marco analítico-conceitual da Teoria da Inovação, acriticamente adotado na ibero-américa; (3) mostrar que a busca de convergência entre os ECTS e a PCT depende de um debate sobre ESCT no interior da comunidade de pesquisa e da concepção de estratégias de extensão, pesquisa, e docência em ECTS que levem à formação de uma nova geração de fazedores de política.

Palavras-chave: Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade, Política Científica e Tecnológica, Ibero-américa, Brasil, Argentina

This article is builded under the idea that the construction of an Ibero American knowledge space demands narrowing the existing gap between the orientation of Science and Technology Policy (STP) and the perspective of the Studies on Science, Technology and Society (SSTS). This gap can be characterized by analyzing the situations of three countries in particular: Argentina, Brazil and Spain. This work will be focused on them. Its objectives are: 1) to explain why one of the purposes of the SSTS, the introduction of its perspective in the agenda of STP, through public debate and the training of professionals, has not been reached; (2) to argue that this gap has been expanding because the policymakers of the STP are influenced by the analytical framework of the Theory of Innovation, a-critically adopted in Ibero-America; (3) to show that convergence between SSTS and the STP depends on a debate within the research community about SSTS and on the design of strategies for extension, research and teaching on SSTS that can lead to the formation of a new generation of policy-makers.

Key words: Studies on Science, Technology and Society, Science and Technology Policy, Ibero America; Brazil, Argentina

Acceso al artículo

10 de agosto de 2009

lunes, 3 de agosto de 2009

Fragmentos Monográficos

OUSADIA NA CONCEPÇÃO DA MONOGRAFIA


Por
Jacob (J.) Lumier
Maio de 2009



Alguns pragmatistas sustentam que o pesquisador iniciante deve ser advertido quanto à idealização da monografia como obra intelectual.

Frequentemente dizem que é preciso acautelar-se para não projetar a imagem de grande obra nem o sonho da obra perfeita, evitando tomar a monografia como a realização desejada para acertar suas contas diante dos males da vida presente.

Com esta orientação exagerada, pretendem aqueles reprimir a ousadia na concepção original da monografia e conter o pesquisador iniciante em sua aspiração para investigar os grandes problemas.

Ora, não há dúvida que uma dose de pragmatismo deve ser observada em qualquer atividade produtiva para imprimir-lhe a qualidade da utilidade.

Nada obstante, na criação intelectual revela-se indispensável uma boa dose de ideal, sobretudo em uma realização do talento individual como o é a autoria de uma monografia.

Ousadia não é sinônimo de sonho perfeccionista ainda que, como se sabe, a perfeição seja liminarmente almejada em toda a arte composicional.

Muitas vezes, é verdade, pode ocorrer que o pesquisador iniciante como indivíduo humano vivendo realidades com múltiplas facetas se deixe levar pelas carências existenciais e se envolva emocionalmente na imagem da grande obra para reafirmar sua auto-estima.

Mas a reação a esse psicologismo não deve levar ao desprezo do ideal de autor nem o ideal de bela obra. Pelo contrário. Estamos na companhia de filósofos influentes quando afirmamos que o ideal da filosofia da arte é imprescindível à concepção original da monografia como aspiração para investigar os grandes problemas.

►Deste ponto de vista e para os fins de reflexão, igualmente ao artista, o autor de obra intelectual literária, incluindo o ensaio monográfico, pode ser equiparado ao fator de mediação pelo qual a matéria trazendo a forma em-si vem a ser objeto de realização.

Quer dizer, no fundo a identidade do autor como tal é a criação.

Tal a referência que não deve ser sublimada na transmissão do conhecimento, haja vista a monografia não só como trabalho científico em geral, mas como produção intelectual em que se compõe experimentação e comunicação social, deste modo superando em sua ambigüidade a mera reprodução do “já dito", que é standardizado no mundo das indústrias culturais.

Certo, sabemos que certas correntes filosóficas do final do século 20 sustentaram além da inutilidade o caráter inócuo do conhecimento produzido: “nada haveria para ser dito”.

Envolvida no mundo da comunicação e da indústria cultural, a produção do conhecimento aconteceria no vazio de significação e nada acrescentaria à experiência humana propriamente dita.

Em realidade, pela revalorização desta corrente pessimista encontramos novamente o posicionamento pragmatista reforçado, repelindo todo o ideal de autor em relação à concepção original da monografia como aspiração para investigar os grandes problemas.

Tal o posicionamento que reflete o mundo da indústria cultural.

Por contra, através da forma monográfica de expressão associada ao ensaio de crítica da cultura, não é difícil notar que se torna possível expor a análise e a compreensão do fenômeno da indústria cultural.

Tanto é assim que um notável pensador do século vinte como Theodor W. Adorno promoveu a seguinte orientação: "Escribe ensayísticamente el que compone experimentando, el que vuelve y revuelve, interroga, palpa, examina, atraviesa su objeto con la reflexión, el que parte hacia él desde diversas vertientes y reúne en su mirada espiritual todo lo que ve y da palabra todo lo que el objeto permite ver bajo las condiciones aceptadas y puestas al escribir." (...) "El ensayo es la forma de la categoría crítica de nuestro espíritu. Pues el que critica tiene necesariamente que experimentar, tiene que establecer condiciones bajo las cuales se hace de nuevo visible un objeto en forma diversa que en un autor dado; y, ante todo, hay que poner a prueba, ensayar la ilusoriedad y caducidad del objeto; éste es precisamente el sentido de la ligera variación a que el critico somete el objeto criticado" (Cf. Max Bense: "Uber den Essay und seine Prosa", apud Theodor W. Adorno: "Notas de Literatura", trad. Manuel Sacristán, Barcelona, Ed. Ariel, 1962, pp. 28 e 30 ). Em duas palavras, o autor de ensaios dedica-se a cultivar, sobretudo uma atitude experimental.

Em face desta compreensão não há exagero em assinalar que a orientação pragmatista extrapola ao situar o problema da concepção original da monografia desde o ponto de vista da indústria cultural, deixando na sombra o papel da criação reservado à acentuação do ideal de autor e sua aspiração para a bela obra.

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DESTAQUE DAS PRINCIPAIS DICAS NA

CONCEPÇÃO E PREPARAÇÃO DA MONOGRAFIA:

► Na concepção original da monografia é aconselhável não reprimir a ambição da grande obra e cultivar a aspiração para investigar as grandes questões. É recomendável formular propósitos de elaboração abrangentes e de amplo espectro visando redefinir as concepções referenciais da disciplina ou da interdisciplinaridade aplicada.

►Vantagens de uma concepção original ousada:

· Favorece uma atitude de abertura e compreensão para (a) – ler as teorias e autores mais produtivos ou mais debatidos na bibliografia selecionada; (b) – tirar proveito dessas leituras em termos de observações e comentários formuladores de linhas de pesquisa.

· Favorece a formulação de um esquema bem simples dos principais eixos da matéria, dos quais serão tirados e nos quais serão integradas as linhas de pesquisa.

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©2007-2009 Jacob (J.) Lumier

Etiquetas: conhecimentos universitários, metodologia científica, monografia







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PRELIMINARES À SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO

TÓPICO PRIMEIRO:


O DESVIO DA SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO NA OBRA DE KARL MANNHEIM


POR

JACOB (J.) LUMIER


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Alguns estudiosos dizem-se críticos da sociologia do conhecimento e preterem sua relevância pedagógica como disciplina científica porque equiparam-na indevidamente ao behaviorismo e às abordagens meramente psicológicas do conhecimento.

Via de regra atribui-se como representativa a proposição exagerada de que a “validade das teorias científicas pode ser reduzida aos interesses que desempenharam um papel na sua geração”, como se a sociologia do conhecimento adotasse uma axiomática da causalidade.

Desta forma cultiva-se uma imagem restrita da nossa disciplina, tida equivocadamente como exclusivamente causal, imagem esta que, em toda a evidência, tem a ver com uma simplificação imprópria da sociologia do conhecimento identificada ao neo-hegelianismo de Karl Mannheim.

Autor muito influente nos Estados Unidos[1] com sua obra Ideologia e Utopia [2] e sua compreensão de que todo o conhecimento é ligado a questões práticas, Mannheim comprometeu seu pragmatismo.

Além disso prejudicou a autonomia e o prestígio científico da sociologia do conhecimento de que ele foi o mais notado incentivador na primeira metade do Século Vinte ao elaborar um enfoque inteiramente baseado na concepção hegeliana conservadorista, tomando o saber como instrumento de adaptação do mundo dos valores ideais às situações existentes ao longo da história.

Trata-se de uma posição filosófica preconcebida submetendo o princípio de sua sociologia que, ao contrário do que se poderia conjecturar, afirmava a determinação social do pensamento em razão do hegelianismo e não em resultado das pesquisas concretas.

Mas não é tudo. Combinada a essa concepção do saber, tido por meio de adaptação dos ideais como conjunto das obras de civilização (incluindo a arte, religião, direito, moralidade, educação, e o próprio conhecimento), Mannheim faz por segregar sua célebre representação de um sujeito com plena ciência desta faceta instrumental do conhecimento.

Vale dizer, projetando uma ciência desse saber adaptando às situações existentes na história, Mannheim se representa um “estrato desamarrado, relativamente sem classe” por ele chamada “intelligentsia socialmente desvinculada” capaz de salvaguardar a perspectiva do todo e o interesse pelo todo – em realidade um todo previamente alcançado com a tomada de posição filosófica pró hegelianismo.

Ademais, cabe notar que esse posicionamento recusando as amarras sociais como desfavoráveis a um saber do todo faz lembrar a pesquisa social sobre o sentimento de imperfeição do mundo nas classes subalternas, comentada por Max Weber [3].

Por uma abordagem ou por outra, pelo viés da concepção conservadora do saber ou pelo desvio da recusa de amarras sociais, a verdade é que não se pode aplicar a sociologia de Mannheim sem levar em conta o problema crítico cultural da transposição do hegelianismo ou do conservadorismo hegeliano em ideologia revolucionária no século 20, do que o melhor exame foi proposto por Ernst Cassirer em “O Mito do Estado[4] .

Em suma, à luz da nova sociologia do conhecimento proposta por C. Wright Mills e desenvolvida por Georges Gurvitch, sobressai que o neo-hegelianismo de Mannheim levou ao fracasso sua orientação, absolutamente inaproveitável em uma sociologia comprometida com a explicação das questões públicas.

(continua)


[1] Gurvitch, Georges (1894-1965): “Problemas de Sociologia do Conhecimento”, In Gurvitch (Ed.) et Al. ”Tratado de Sociologia - Vol.2”, Trad: Ma. José Marinho, Revisão: Alberto Ferreira, Iniciativas Editoriais, Porto 1968, Págs.145 a 189 (1ªedição Em Francês: PUF, Paris, 1960). Cf.pág. 161.

[2] Mannheim, Karl: « Ideologia e Utopia: uma introdução à sociologia do conhecimento », tradução Sérgio Santeiro, revisão César Guimarães, Rio de Janeiro, Zahar editor, 2ªedição, 1972, 330 pp. (1ªedição em Alemão, Bonn, F.Cohen, 1929; 2ªedição remodelada em Inglês, 1936).

[3] Wrigth Mills, C. e Gerth, Hans - Organizadores : « Max Weber : Ensaios de Sociologia », tradução Waltensir Dutra, revisão Fernando Henrique Cardoso, 2ªedição, Rio de Janeiro, Zahar, 1971, 530 pp.(1ªedição em Inglês : Oxford University Press, 1946). Cf.págs.318 sq e 409 sq.

[4] Cassirer, Ernst: “O Mito do Estado”, trad. Álvaro Cabral, Rio de Janeiro, Zahar editor, 1976, 316 pp. (1ªedição em Inglês, Londres, 1946).

domingo, 26 de julio de 2009

Popper e Heisenberg


Sobre a tentativa frustrada de Popper em refutar Heisenberg

Apontamentos


por
Jacob (J.) Lumier
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No texto de Karl POPPER, em sua exposição sobre o programa de Werner HEISENBERG e as relações de incerteza, (cf. “A Lógica da Pesquisa Científica”,pp.239 sq), podemos ver que o “programa epistemológico” de HEISENBERG é orientado, segundo POPPER, para afastar da teoria atômica os “não-observáveis”, ou seja, afastar as magnitudes inacessíveis à observação experimental e, desse modo, livrar a teoria de elementos metafísicos.
Conforme a exposição de POPPER, essas magnitudes não observáveis através de um experimento correspondiam, na teoria de BOHR, anterior à de HEISENBERG, às órbitas dos elétrons ou às freqüências de suas revoluções. Essas freqüências das revoluções do elétron (velocidade), nada observáveis, excluem, portanto, a possibilidade de ser identificadas com as freqüências passíveis de observação como linhas espectrais (posição).
POPPER antecipa as conclusões de sua análise a partir de um esquema compreensivo da interpretação de HEISENBERG, no qual destacamos a seguinte proposição: (a)- “há algumas fórmulas matemáticas, na teoria quântica, interpretadas por HEISENBERG em termos do seu princípio de incerteza, ou seja, como enunciados acerca de intervalos de incerteza, devido aos limites de precisão que nossas medidas podem atingir”; (b)- compreendidas no enfoque estatístico, tais fórmulas asseveram que certas relações vigem entre determinados intervalos de dispersão ou variação ou disseminação estatística, intervalos estes que POPPER chama “relações estatísticas de dispersão; (c)- nessa compreensão popperiana, se deve propor uma inversão na avaliação da “existência de limites de precisão atingível”, afirmada ou asseverada por HEISENBERG, a qual, então, nessa inversão, deixaria de ser uma conseqüência lógica, dedutível a partir das fórmulas da teoria (para se tornar um pressuposto distinto da teoria, um adicional); (d)- quer dizer, POPPER se insurge quanto ao estatuto desses “limites de precisão”, agasalhando a pretensão de que “medidas mais precisas, não apenas são compatíveis com a teoria quântica, mas é até mesmo possível descrever experimentos imaginários que demonstrariam a procedência de medidas mais exatas.
A crítica de POPPER contesta a doutrina que estaria por traz da pretensão de fazer a reforma na teoria de BOHR; quer dizer acusa a ocorrência do que ele, POPPER, chama “pressuposto insatisfatório de que existem eventos físicos e magnitudes fisicamente definidas que a natureza consegue esconder de Nós, tornando-os para sempre inacessíveis a testes observacionais”. Trata-se, portanto, da defesa de uma “acessibilidade” tida por “imperiosa” dos testes observacionais, contraposta à concepção do princípio de incerteza, de HEISENBERG (POPPER admite que a ciência e a técnica desenvolvem juntos). Essa crítica propõe uma reflexão sobre a conclusão (enfatizada por MARCH) de que, “na Mecânica nova, o conceito de trajetória não tem qualquer significado definido ...” (apud POPPER, op.cit., p.241).
A exposição da fórmula da relação de incerteza que POPPER nos oferece, pauta-se numa análise da interferência da medida na experimentação, ou seja: a análise do impacto do processus de mensuração.
►Na primeira parte da sua argumentação nos é dito que “toda medida física envolve troca de energia entre o objeto medido e o aparelho de mensuração”, incluindo o próprio observador, sendo admitido que a energia, o raio de luz, refletida pelo objeto, pode vir a sofrer absorção por parte do aparelho de medida, de tal sorte que “a medida proporciona conhecimento de um estado que acabou de ser destruído pelo processus de mensuração”.
Entretanto, se essa interferência do processus de mensuração no objeto medido pode ser desprezada quando se trata de objetos macroscópicos, o mesmo não vale para um objeto atômico. “É impossível, a partir do resultado da medida, fazer inferência acerca do preciso estado de um objeto atômico, imediatamente após ele ter sido medido: conseqüentemente, a medida não pode servir de base para previsões”, enfatiza POPPER.
A segunda parte da argumentação aprofunda na série das medidas de experimentos. Nos é dito, (1)- que, através de novas medições, existiria a possibilidade de determinar o estado do objeto após a medição anterior, só que a interferência se repete de um modo que escapa à avaliação; (2)- que seria viável fazer as medidas de maneira tal que certas características do estado a ser avaliado -como, p.ex., o momento da partícula- não sejam perturbadas. (3)- Alternativa esta que também não prospera, já que essa medição só pode ser feita “ao preço de interferir fortemente com outras magnitudes características do estado a ser medido" (no caso particular, a posição da partícula, que seria, então, perturbada).
Quer dizer, a alternativa de medição do item (1) poderia ser conseguida através da alternativa do item (2) caso a magnitude que se pretende alcançar não fosse mutuamente correlacionada a outra, item (3), de sorte a sofrer a interferência que seria controlada em relação à primeira grandeza.
Neste ponto da exposição de POPPER, sobressai a aplicação do teorema que leva à fórmula da relação de incerteza de HEISENBERG, a saber: se duas grandezas estiverem mutuamente correlacionadas dessa maneira interpenetrada notada no item (3), em que a correção da interferência da medição em uma leva à interferência na outra, então, “o teorema segundo o qual elas não podem ser simultaneamente medidas com precisão aplica-se a elas, embora cada qual, separadamente, possa sofrer medição precisa”.
Desta forma, a exposição popperiana entra na discussão da fórmula de HEISENBERG, segundo a qual “o produto dos dois intervalos de erro é, pelo menos, da ordem de grandeza de “h” (eth), sendo “h”(eth) o quantum de ação de PLANK (referente à grandeza mutuamente correlacionada de maneira interpenetrada):
Δx.Δpאַ > h/4π
Sendo:
pאַ ... momento Δx ... intervalo de erro
Δpאַ ... intervalo de erro
x... coordenada de posição
Por esta fórmula, se aumentarmos a precisão de uma das medidas -como a do momento “pאַ”, reduzindo desse modo a extensão do intervalo de erro “Δpאַ”- seremos levados a reduzir a precisão da medida da coordenada da posição - “x” - , isto é, seremos levados a expandir o intervalo “Δx”. Desse modo, segundo HEISENBERG, a maior precisão atingível está limitada pela relação de incerteza (apud POPPER,op.cit.,p.240 sq.).
POPPER enfatiza que, dessa fórmula de HEISENBERG, decorre o seguinte: (1)- que uma medida inteiramente precisa de uma das duas magnitudes terá de ser conseguida ao preço da completa indeterminação da outra; (2)- que “toda a medida de posição interfere com a medida da correspondente componente do momento”. Daí a conclusão que é objeto da crítica de POPPER: (a)- é impossível em princípio prever a trajetória de uma partícula; (b)- na Mecânica nova , o conceito de trajetória não tem qualquer significado definido.
►Com efeito, na avaliação de POPPER, o programa epistemológico de HEISENBERG não alcançou êxito no sentido de expulsar da teoria atômica todos os elementos metafísicos, exatamente devido às vacilações entre uma abordagem subjetiva e um enfoque objetivo, de que a conclusão acima seria a expressão, sendo o enunciado do item (a) referido à abordagem subjetiva, enquanto o do item (b) indica o enfoque objetivo.
As “vacilações” de que nos fala POPPER baseiam-se em que HEISENBERG afirma que os cálculos de trajetória insuscetíveis de teste observacional são destituídos de significação, no seu dizer: “é uma questão de crença pessoal querer alguém atribuir qualquer realidade física à calculada história passada do elétron” (apud POPPER, ibid. p.242). A “vacilação” estaria em que é possível calcular essa “trajetória sem sentido”, o que implica admitir elementos metafísicos na teoria atômica.
Quer dizer, POPPER contrapõe a concepção subjetiva à objetiva e tenta mostrar a ocorrência de duas contradições (nºs 01 e 02), que estariam como impedimentos do programa de HEISENBERG.
A contradição nº01 é o próprio caráter subjetivo da interpretação que encara o princípio de incerteza como um limite imposto a nosso conhecimento: “a partícula tem uma posição exata e um momento exato (portanto, tem uma trajetória exata), mas que para nós é impossível medi-los simultaneamente”.
Segundo POPPER, por este enunciado, “a natureza continua empenhada em esconder de nossos olhos certas grandezas físicas; não a posição, não o momento da partícula, mas a combinação dessas duas magnitudes, isto é, a “ posição-cum-momento” ou trajetória.
A contradição nº02 já é decorrência da aplicação da possibilidade de calcular a “trajetória sem sentido”. Assim nos é dito que a abordagem objetiva assevera ser inadmissível ou incorreto ou metafísico atribuir à partícula algo como uma “posição-cum-momento” ou uma trajetória claramente definida: a partícula simplesmente não tem trajetória, mas “apenas ou uma posição exata, combinada a um momento inexato, ou um momento exato combinado a uma posição inexata”.
A contradição em aceitar esse enfoque objetivo é o fato de que, como já mencionamos uma posição-cum-momento ou uma trajetória claramente definida da partícula é exatamente calculável, ainda que só para os períodos de tempo durante os quais é impossível, em princípio, submetê-la a teste observacional. Conseqüentemente, aceitar esse enfoque objetivo que nega realidade física à trajetória calculável seria aceitar elementos metafísicos.
►POPPER nos apresenta como esclarecedor dessas duas contradições que os defensores da relação de incerteza vacilam entre uma abordagem subjetiva e um enfoque objetivo, como já dissemos. Acrescenta que em nada avança ao programa epistemológico de HEISENBERG tentarmos, juntamente com o próprio HEISENBERG, combinar as duas interpretações – que POPPER as quer opostas ou confrontadas –, em uma única consideração, levando a afirmar que “uma física objetiva neste sentido, isto é, no sentido de uma divisão nítida do mundo em objeto e sujeito, deixou evidentemente de ser possível” ( HEISENBERG, in “Princípios de Teoria Física”, apud POPPER, “A Lógica da Pesquisa Científica”,op.cit.,p.244).
A reflexão de POPPER é voltada para desenvolver a interpretação estatística em sentido restrito da teoria quântica. Sua crítica contrapõe-se ao que ele chama “tentativa de explicar a interpretação estatística recorrendo ao fato da precisão atingível na medida das grandezas físicas estar limitada pelas relações de incerteza de HEISENBERG”.
Na corrente dessa “tentativa” repelida, argumenta-se que, devido a essa incerteza das medidas concernentes aos experimentos atômicos em geral, o resultado destes não será determinado.
(a)-Se o experimento for repetido várias vezes, nas mesmas condições, vários resultados diferentes serão obtidos; (b)- se o experimento for repetido grande número de vezes , verificar-se-á que cada resultado particular será obtido uma fração definida de vezes, no total; (c )- de sorte que se pode dizer que há uma probabilidade definida de que tal resultado seja obtido sempre que o experimento venha a ser realizado.
Nesta corrente POPPER inclui a MARCH, quem escreve que, do ponto de vista da relação de incerteza, “entre o presente e o futuro vigoram... apenas relações de probabilidade, tornando-se claro que o caráter da Mecânica nova há de ser o de uma teoria estatística”.
POPPER repele essa análise das relações entre as fórmulas de incerteza e a interpretação estatística da teoria quântica, sustentando que, efetivamente se podem deduzir as fórmulas de incerteza a partir da equação de onda proposta por SCHRODINGER.
Diz-nos que a interpretação estatística dada por BORN às duas teorias (a essa teoria ondulatória e à teoria de partículas, de HEISENBERG), mostrou que a teoria ondulatória pode ser vista como uma teoria de partículas, pois a “equação de onda”, formulada por SCHRODINGER, admite interpretação tal que fornece a probabilidade de localizar a partícula em qualquer dada região do espaço (ib.p.244) - conforme acrescenta POPPER, tal probabilidade é determinada matematicamente pelo quadro da amplitude da onda; é grande dentro do pacote de ondas, em que estas se reforçam umas às outras; e desaparece fora do alcance desse pacote.
POPPER entende que a situação-problema de localizar a partícula, sendo fundamental na teoria quântica, sugere que essa teoria seja interpretada estatisticamente.
Diz-nos que essa situação-problema está contida no que seria a missão mais importante da teoria quântica, a saber: a dedução dos espectros atômicos, e sustenta que essa dedução tinha de ser encarada como tarefa estatística, considerando notadamente que EINSTEIN formulou a hipótese dos fótons ou quanta de luz, e que assim devia ser encarada desde o momento em que ele fez isso.
Reforçando sua avaliação, POPPER utiliza citações de BORN-JORDAN (“Elementos de Mecânica Quântica”, 1930) já que a hipótese de EINSTEIN interpretava os efeitos luminosos observados em termos de fenômenos de massa, devido à incidência de muitos fótons.
Quer dizer, a experiência de observação de muitos fótons favorece as afirmativas de BORN de que (a)- “os métodos experimentais da física atômica... sob a orientação da experiência, passaram a preocupar-se exclusivamente com questões estatísticas”; (b)- “A Mecânica Quântica, que oferece a teoria sistemática das regularidades observadas, corresponde, sob todos os aspectos, ao presente estado da física experimental, pois que se restringe, desde a origem, a indagações estatísticas e a respostas estatísticas”.
Privilegiando tal consideração sobre as regularidades observadas como preocupação estatística central na física atômica, POPPER sublinha exatamente que é em sua aplicação aos problemas da física atômica que a teoria quântica leva a obtenção de resultados que diferem dos alcançados pela Mecânica Clássica: no dizer de MARCH, “segundo a teoria quântica, as leis da Mecânica Clássica serão válidas se forem vistas como enunciados acerca das relações entre médias estatísticas” (apud POPPER,op.cit.,p.245).
A partir dessa compreensão da missão da teoria quântica como ligada à dedução dos espectros atômicos,POPPER propõe uma interpretação estatística das fórmulas de incerteza. Para isso, sustenta que as fórmulas de HEISENBERG Δx.Δpx > h/4π apresentam-se como conclusões lógicas da teoria, mas a interpretação dessas fórmulas, tomando-as como regras limitadoras da precisão da medida possível de atingir -de acordo com HEISENBERG- não decorreriam da teoria, de tal sorte que as supostas “medidas mais exatas do que as permissíveis nas fórmulas de incerteza, não poderiam contradizer logicamente a teoria quântica ou a Mecânica ondulatória”.
►Contra o que chama “interpretação subjetiva” (“quanto mais precisamente medirmos a posição de uma partícula, menos sabemos acerca de seu momento”) POPPER propõe a seguinte razão: dado um agregado de partículas e feita uma seleção (no sentido de separação física) daquelas que, em certo instante e com certo grau de precisão, ocupam determinada posição “X”, verificaremos que seus momentos “px” mostrarão dispersão aleatória, e o âmbito da dispersão desses momentos, “delta px”, será tanto maior quanto menor for “delta X”, isto é, quanto menor for o âmbito da dispersão ou imprecisão admitida para as posições.
E a recíproca também se confirma: se selecionarmos ou separarmos as partículas cujos momentos “px” se coloquem todos dentro de um âmbito estabelecido “delta px”, verificaremos que suas posições se dispersarão de modo aleatório, dentro de uma âmbito “delta X” que será tanto maior quanto menor for “delta px”, isto é, quanto menor for o âmbito da dispersão ou imprecisão admitida para os momentos.
Todavia, para POPPER, na interpretação estatística haveria a possibilidade de alcançar a combinação dessas duas grandezas.
Assim, o processus de seleção proposto só chega à etapa final ao tentarmos selecionar as partículas que tenham tanto as propriedades “delta X” quanto as “delta px”, pois só poderemos realizar fisicamente essa seleção - isto é, separar fisicamente as partículas- se ambos os âmbitos forem suficientemente grandes para satisfazer a equação de queou, simplesmente, “delta X” multiplicado por “delta px” é maior ou igual a “eth” sobre “4 pi”, {Δx.Δpx > h/4π}.
Segundo POPPER, essa “interpretação objetiva”, como a chama, entende as fórmulas de HEISENBERG como “asseveradoras de que certas relações vigoram entre certos âmbitos de dispersão”, que serão chamadas “relações estatísticas de dispersão”.
A correção posterior que POPPER ajunta a sua linguagem substitui “agregado de partículas” por um conjunto bem mais amplo e melhor definido, isto é, por “um agregado ou uma seqüência de repetições de um experimento”, experimento este “levado a efeito com uma partícula ou um sistema de partículas”.
A seleção física de que se fala nessas proposições compreende um processus tecnicamente operado, tendo em conta a propriedade “delta X” da seqüência de repetições do experimento (isto é, o âmbito da dispersão ou imprecisão admitida para as posições), seleção física esta que POPPER a quer “em oposição a uma seleção simplesmente mental ou imaginada”, como o é a seleção feita quando falamos da classe de todas as partículas que passaram ou passarão através da fenda ou faixa “delta p” (e não “delta X”), ou seja, quando falamos de uma classe que faz parte de classe mais ampla de partículas, da qual não foi fisicamente separada.
Segundo POPPER, toda seleção física pode naturalmente ser vista como se fora uma forma de medida, e pode efetivamente ser usada como tal.
Medida significa “não apenas operações diretas de medida, mas também medidas obtidas indiretamente, através de cálculos (em física, são praticamente estas últimas as únicas medidas que surgem).
Isto não quer dizer que devamos encarar toda a medida como uma seleção física, pelo contrário. Qualquer seleção baseada na posição das partículas equivale a uma interferência no sistema, resultando em aumento da dispersão dos componentes do momento “px”, de modo que a dispersão crescerá (de acordo com a lei traduzida pela fórmula de HEISENBERG) com o estreitamento da fenda.
►Com isto, POPPER sustenta que as fórmulas peculiares à teoria quântica constituem hipóteses de probabilidade e se colocam como enunciados estatísticos, de tal sorte que se tornará difícil perceber de que maneira “as proibições de eventos isolados” (ou proibições de medidas exatas) poderiam ser deduzidas de uma teoria estatística de casos de probabilidade. Em suma: POPPER acredita haver meios para refutar a argumentação de que medidas exatas de posição e momento estariam em contradição com a teoria quântica.
O raciocínio dedutivo que a este respeito nos é apresentado, entende que o problema está “no produzir condições iniciais precisas através de manipulação experimental do sistema”, ou seja, através do processus de “seleção física”.
Quer dizer, (1)- em razão das próprias “relações de dispersão” concebidas na interpretação estatística de POPPER -como já vimos- “haveremos de falhar no produzir condições iniciais precisas”.
(2)- Ora, “é indubitavelmente verdade que a técnica normal do experimentador consiste em produzir ou construir condições iniciais”; e isso, esse raciocínio, permite a Karl POPPER deduzir, a partir de suas “relações estatísticas de dispersão” (como, em sua interpretação, chama ele as “relações de incerteza”, de HEISENBERG), o teorema segundo o qual “da teoria quântica não podemos derivar quaisquer predições singulares, mas apenas previsões de freqüência”(probabilidades).
Segundo POPPER, esse teorema resume sua atitude diante de todos os experimentos imaginários discutidos por HEISENBERG (POPPER faz questão de frizar que este último autor acompanha a BOHR).
Segundo POPPER, esse teorema resume sua atitude diante de todos os experimentos imaginários discutidos por HEISENBERG (POPPER faz questão de frisar que este último autor acompanha a BOHR).
Se HEISENBERG tinha o objetivo de provar a impossibilidade de efetivar medidas com uma precisão proibida pelo seu princípio de incerteza, POPPER, por sua vez, afirma que “a dispersão estatística torna impossível notadamente prever qual será a trajetória da partícula após a alteração da medida”.
A conseqüência dessa interpretação estatística em termos de probabilidade, segundo o próprio POPPER, é que as medidas e cálculos dos elementos tidos por dispensáveis na interpretação de HEISENBERG (os cálculos exatos da trajetória cuja realidade física HEISENBERG deixa em dúvida, e outros de seus correligionários, como SCHLICK, negam-na totalmente), “podem ser qualquer coisa, mas não são supérfluos”(“A Lógica da Pesquisa Científica”,op.cit.,p.253).
E POPPER acrescenta: “reconhecidamente, eles (os elementos tidos por dispensáveis) não servem como condições iniciais ou como base para a dedução de previsões, mas, apesar disso, são indispensáveis; são necessários para submeter a teste nossas previsões, de vez que se trata de previsões estatísticas.
Com isso, POPPER quer mostrar que sua interpretação em termos de “relações estatísticas de dispersão” leva a uma previsão possível de ser testada.
Ou seja, as suas relações estatísticas de dispersão “asseveram que os momentos devem dispersar-se quando as posições se vêem determinadas mais exatamente -e vice-versa”.
►Neste ponto é que a interpretação estatística de POPPER mostra diferença em relação à interpretação do próprio HEISENBERG, já que as medidas e os cálculos por este dispensados passam a ter aplicação na previsão.
Com efeito, segundo POPPER, "essa é uma previsão que não poderia ser submetida a teste observacional, ou que não seria falseável se não tivéssemos condições de medir e calcular os vários momentos dispersos, que ocorrem imediatamente após qualquer seleção feita de acordo com a posição”.
Desse modo, POPPER entende que a teoria, estatisticamente interpretada, não só deixa de afastar a possibilidade de medidas isoladas exatas, como deixa de ser insuscetível de teste e, conseqüentemente, deixa de ser “metafísica”, como seria se essas medidas fossem impossíveis.
Quer dizer, a concretização do programa de HEISENBERG, a eliminação de elementos metafísicos, seria aqui alcançada; porém o seria através de um método oposto ao preconizado por ele.
POPPER sustenta que faz a inversão da atitude que procurava excluir magnitudes tidas por inadmissíveis, mostrando que o formalismo no qual se contém essas magnitudes é correto, exatamente por que as magnitudes não são metafísicas, mas são testáveis.
Com isso, POPPER acredita (1)- haver abandonado o que ele chama “dogma presente na limitação” que HEISENBERG impõe à precisão atingível e (2)- que assim ficou ultrapassado qualquer motivo para duvidarmos da significação física dessas magnitudes.
Quer dizer, as relações de dispersão que neutralizam a impossibilidade de medidas precisas, são “previsões de freqüência acerca de trajetórias”.
Conseqüentemente, essas trajetórias hão de ser mensuráveis, tão precisamente como os lançamentos de dado que resultem em cinco hão de ser empiricamente determináveis; e isto, caso desejemos ter -como é exatamente o que POPPER quer estabelecer- as condições de submeter a teste observacional nossas previsões de freqüência acerca dessas trajetórias ou desses lançamentos.
POPPER esclarece sua interpretação ressaltando que as relações de dispersão asseveram que, “se fizermos um arranjo para uma perfeita seleção da posição (através de uma fenda numa tela, p.ex.) os momentos, como conseqüência, se dispersarão”. Quer dizer, em lugar de se tornarem indeterminados, os momentos assim isolados se tornam imprevisíveis, num sentido que nos permite predizer que eles se dispersarão.
►Neste ponto é que se alcança o tão desejado teste observacional. Com efeito, a previsão de probabilidade de dispersão é uma previsão que se deve submeter a teste medindo os momentos isolados, de tal modo que se possa determinar-lhes a distribuição estatística.
POPPER entende que esse “cálculo da história passada” da partícula é essencial: “sem ele não poderíamos asseverar que estamos medindo os momentos imediatamente após terem sido selecionadas as posições”;
Nem poderíamos asseverar que estamos submetendo a teste as relações de dispersão - o que, segundo POPPER, se faz realmente com qualquer experimento que mostre aumento de dispersão, como conseqüência do decréscimo da largura de uma fenda.
E a conclusão de POPPER é peremptória: desta forma, “em conseqüência das relações de dispersão, só se torna “toldada” ou “anuviada” a precisão da previsão, mas nunca a precisão da medida”.
Todavia, a grande dificuldade do pensamento nomológico-dedutivo é sua incapacidade para considerar a multiplicidade dos tempos no domínio das probabilidades.
Como é sabido, POPPER pôs em obra um experimento que ele chamou “imaginário”, com lógica aparentemente intocável, capaz, supunha-se, de provar com todo o rigor da ciência que, num teste empírico de previsão feito mediante a aplicação técnica de seu modelo de relações de dispersão, a precisão das medidas não seria limitada pelas relações de incerteza.
Ele examinou três casos de medidas “não-preditivas” -(a)-medida de duas posições, (b)-medida de posição precedida ou (c)- sucedida por medida de momento- visando viabilizar o “cálculo do passado do elétron”, que HEISENBERG admite em princípio, mas despreza.
Só que, para tal viabilidade, seria preciso ter estabelecido a possibilidade pressuposta no caso (b), ou seja, que é possível calcular a trajetória anterior à primeira medida, “contanto que essa medida corresponda a uma seleção feita segundo um momento dado, pois essa seleção não perturba a posição da partícula” (cf.POPPER,op.cit.,p.265).
MAS ISSO NÃO É POSSÍVEL ! E o experimento de POPPER ruiu por terra!
“O ponto principal do fracasso - nos diz o próprio em sua integridade científica- é o de que medidas não-preditivas só determinam a trajetória de uma partícula entre duas medidas, como, por exemplo, uma medida de momento seguida por uma medida de posição (ou vice-versa); não é possível, nos termos da teoria quântica, projetar a trajetória para mais atrás, isto é, para uma região de tempo anterior à primeira dessas medidas” (ib.ibidem).

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