miércoles, 20 de abril de 2011

A Ideologia e o Coeficiente humano e social do conhecimento

A Ideologia e o Coeficiente humano e social do conhecimento [i]

Por

Jacob (J.) Lumier

Há relutância por parte de pensadores influentes do Século Vinte em reconhecer o marco da sociologia para o exame do problema da alienação no legado do jovem Marx. Em contra de Habermas que pretende hegelianizar a leitura de Marx [ii], cabe sustentar que não há razão para cobrar a hipoteca do passado sobre a noção de trabalho alienado em Marx, muito menos subordiná-lo à Hegel.

Sem dúvida, há uma aplicação política da dialética das alienações que explica por que Marx estendeu o termo “ideologia” a todas as ciências humanas, às ciências sociais (incluindo a economia política e a história, desde que não sejam penetradas pelo marxismo) e, posteriormente, a todas as obras de civilização. É exatamente a aspiração à libertação total de certos aspectos da alienação que explica isso.

Há ambigüidade do termo “alienação” ocultando a confusão entre o realismo sociológico e o utopismo.

O exame do problema sociológico da ideologia sofre o efeito da aspiração de Marx à libertação total da alienação: “na sociedade futura, o desaparecimento das classes deveria conduzir a uma situação em que todo o conhecimento científico e filosófico seria liberto das suas relações com os quadros sociais: o seu coeficiente social seria eliminado”, configurando uma concepção de “verdade completa, total, absoluta” que se afirma fora de qualquer quadro de referência [iii].

Orientação essa que reencontra o “paradoxo da verdade absoluta ocultando-se sob a ideologia da classe proletária” que dela se serve para se constituir a fim de fazer triunfar essa verdade na história transformada em teodicéia. É o utopismo como filosofia da história hegeliana revirando-se contra a análise sociológica.

Em realidade a ligação entre ideologia e alienação não é uma ligação necessária. Devemos ter em conta que este problema se soluciona desde o ponto de vista da ultrapassagem do dualismo das ciências naturais e das ciências humanas, ultrapassagem que não deve ser procurada na absorção das ciências humanas pelas ciências naturais, mas na constatação de que qualquer ciência é uma atividade social prática e, portanto, comporta um coeficiente humano, notando que é este o posicionamento e a formulação de Marx nas célebres “Teses sobre Feuerbach”.

Em decorrência, constata-se que a ideologia não passa de um gênero particular do conhecimento: o conhecimento político que se afirma em todas as estruturas e em todos os regimes, mas cuja importância e cujo papel variam.

Sem dúvida, indispensável para superar a sombra de Hegel, os resquícios de teodicéia e hegelianismo na sociologia, o exame do problema sociológico da ideologia em Marx resta inconcluso caso não se leve em conta a aspiração à libertação total da alienação, como superação de todas as ideologias.

Com efeito, a consciência alienada tem vários aspectos que Marx estuda na dialética das alienações que nada tem em comum com a de Hegel. Neste pensador, como já o notamos, a dialética é primeiro que tudo Deus; em seguida, é as suas emanações: o espírito e a consciência, que se alienam (perda de si) no mundo para retornarem a Deus [iv] .

Já em Marx, qualquer movimento dialético está ligado em primeiro lugar à praxis social. Ademais, como se sabe, Marx insistiu contra Hegel, “e com razão”, no fato de que a objetivação, sem a qual as sociedades e as civilizações não poderiam subsistir, de modo algum devia confundir-se com a perda de si.

Vale dizer, o “jovem” Marx distingue a alienação nos seguintes aspectos: a objetivação; a perda de si; a medida da autonomia do social; a exteriorização do social mais ou menos cristalizada; a medida da perda de realidade ou desrealização - de que dependem em particular as ideologias como manifestações da consciência mistificada; a projeção da sociedade e dos seus membros para fora de si próprios e a sua dissolução nessa projeção ou perda de si.

É certo que as aplicações exclusivamente sociológicas dessas distinções relativas ao conceito de alienação nem sempre se diferenciem das suas aplicações em sentido político - ligadas que são em Marx à aspiração à libertação total de certos aspectos da alienação.

Nada obstante, a dialética entre os diferentes sentidos do termo alienação possuem um sentido sociológico muito preciso: Trata-se dos graus de cristalização, de estruturação e de organização da vida social, que podem entrar em conflito com os elementos espontâneos desta”, resultando, pelo concurso de ideologias falazes, na ameaça de dominação e sujeição que pesa sobre as coletividades e os indivíduos.

É assim em referência aos critérios sociológicos que Marx estuda a dialética das alienações na sua análise do regime capitalista, em que, como já foi assinalado, o trabalho é alienado em mercadorias; o indivíduo alienado a sua classe; as relações sociais alienadas ao dinheiro, etc. [v].

Como se sabe, Marx tira proveito da ambigüidade do termo “alienação” para ocultar a luta travada no seu pensamento entre o realismo sociológico e o utopismo que na sua obra “A Ideologia Alemã” leva ao predomínio da sociologia [vi].

Nada obstante, a aspiração à libertação total da alienação como superação de todas as ideologias cobra seu valor de tal sorte que, para-além de uma aspiração, a ideologia proletária pode confundir-se à teoria marxista.

Portanto, projetada para a sociedade futura onde o desaparecimento das classes deveria conduzir a uma situação em que todo o conhecimento científico e filosófico seria liberto das suas relações com os quadros sociais, trata-se de uma teoria filosófica, sociológica e econômica, possuidora de uma validade universal exatamente porque ultrapassa todas as ideologias, no sentido extensivo do termo [vii].

Em suma, a ideologia proletária é afirmada como um conhecimento liberto das suas relações com os quadros sociais.

Vale dizer, Marx configura uma concepção de verdade completa, total, absoluta, que se afirma fora de qualquer quadro de referência. A ideologia proletária não é somente “desalienada”: é um poderoso estimulante da desalienação.

Há, pois, um paradoxo da verdade absoluta ocultando-se sob a ideologia de que se serve a classe proletária para se constituir, a fim de fazer triunfar essa verdade na história transformada em teodicéia.

Configura-se então um mistério: é a filosofia da história vingando-se da análise sociológica. A saída para isto exige que os sociólogos deixem de considerar como necessária a ligação entre ideologia e alienação, no caso a idéia de que é imperioso libertar o saber de suas amarras sociais, como diria Karl Mannheim [viii], mediante a busca da ideologia desalienadora.

Mesmo como tendência para a consciência mistificada [ix], a ideologia pode ser estudada como aspecto do conhecimento político, que é um gênero cognitivo observado em todas as estruturas e em todos os regimes[x], cuja importância e papel passam por variações. Desta forma se favorece o aproveitamento da sociologia do conhecimento de Marx, como estudo dialético das relações com os quadros sociais.

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Etiquetas:

Conhecimento, capitalismo, economia política, alienação, ideologia, consciência mistificada, política, crítica, história, relações humanas, sociologia, século vinte.

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[xi]



[i] Texto com novo título extraído do ensaio "A Utopia do Saber Desencarnado: Artigos de Sociologia do Conhecimento", por Jacob (J.) Lumier, acessível na Web issuu http://issuu.com/carlusmagn/docs/mannheim

[ii] Ver: Habermas, Jürgen: “Théorie et Pratique-vol.2”, tradução e prefácio: Gérard Raulet, Paris, Payot, 1975, 238 pp. /1ªedição em Alemão, 1963. Cf.págs.. 208 a 211.

[iii] Gurvitch, Georges: “A Vocação Actual da Sociologia –vol.II: antecedentes e perspectivas”, tradução da 3ªedição francesa de 1968 por Orlando Daniel, Lisboa, Cosmos, 1986, 567 pp. (1ªedição em francês: Paris, PUF, 1957).

[iv] Gurvitch, Georges (1894-1965): “Dialectique et Sociologie”, Flammarion, Paris 1962, 312 pp., Col. Science.

[v] Gurvitch, Georges: “A Vocação Actual da Sociologia –vol.II, op.cit. pág. 279.

[vi] Ibidem, pág. 290.

[vii] Ibidem, pág. 322.

[viii] Mannheim, Karl: « Ideologia e Utopia: uma introdução à sociologia do conhecimento », tradução Sérgio Santeiro, revisão César Guimarães, Rio de Janeiro, Zahar editor, 2ªedição, 1972, 330 pp. (1ªedição em Alemão, Bonn, F.Cohen, 1929; 2ªedição remodelada em Inglês, 1936).

[ix] Ver sobre a consciência mistificada em outro capítulo deste livro.

[x] Inclusive nas sociedades inteiramente penetras pelo mito, como o são as sociedades arcaicas.

sábado, 16 de abril de 2011

O provável fim da lei de Moore sinaliza quebra de paradigmas na indústria eletrônica


Observatório da Imprensa - Código Aberto - Carlos Castilho: "- Enviado mediante la barra Google"

"O provável fim da lei de Moore sinaliza quebra de paradigmas na indústria eletrônica"
Postado por Carlos Castilho em 15/4/2011 às 13:51:55
Reproduzido aqui por Jacob (J.) Lumier


A polêmica sobre o fim de um dos mais badalados princípios marqueteiros da indústria de computadores parece indicar uma reviravolta na forma como os pesquisadores, executivos e usuários veem os desdobramentos futuros da internet e da web.

A lei de Moore previa que a cada 18 meses seria possível duplicar a capacidade de processamento dos chips de computadores sem alterar drasticamente os custos de produção e o seu tamanho físico. Durante 46 anos, a lei — que na verdade era um prognóstico — foi adotada como paradigma pelos fabricantes de computadores e microprocessadores.

Mas como os chips foram ficando cada vez menores, as previsões são de que sua capacidade tende a se estabilizar por falta de espaço físico. Hoje o chip de um computador médio chega a ter mais de 200 mil transistores de silício, e cada transistor pode ter uma espessura média de 32 nanômetros, ou 32 milionésimos de milímetro.

O debate sobre a lei de Moore indica que provavelmente estaremos entrando numa era onde os softwares (os aplicativos que rodam em dispositivos eletrônicos) ganharão um protagonismo muito maior do que o hardware (os equipamentos que operacionalizam os softwares). E isso pode assinalar uma mudança inédita na chamada economia digital.

A impossibilidade física de continuar enfiando cada vez mais transistores num mesmo chip faz com que a indústria do hardware possa bater no teto e ficar impedida de crescer enquanto não se descobre um substituto para o silício, o mineral que está no coração dos microprocessadores.

A discussão atual ora vai para o pessimismo total, quando alguns pesquisadores preveem que toda a bilionária indústria dos microprocessadores acabará enferrujada, ora para o otimismo cauteloso, como o expressado por porta-vozes da Intel e AMD, que apostam na sobrevida dos chips movidos a silício por pelo menos mais 30 anos.

O maior protagonismo do software pode ser relevante porque ele acentuaria as características econômicas e sociais da chamada economia da informação em rede, cujos parâmetros são diferentes da economia industrial, de produção em série, que orienta a confecção dos chips em mega empresas como Intel e AMD.

Isso não significa que a indústria dos processadores entrará em colapso. Ela apenas deixará de ser tão protagônica como é hoje, por conta de sua influência no marketing de novos equipamentos eletrônicos. Todo mundo sempre quer o processador mais moderno, só que estes processadores não serão tão revolucionários como são hoje, quando a inovação está mais por conta do marketing dos fabricantes do que pelos benefícios reais usufruídos pelos usuários dos novos chips de computadores existentes no mercado.

O fato de o hardware ceder boa parte do seu espaço atual para o software marca um processo de natural de transição de um modelo para outro. De um modelo baseado mais na reprodução em massa de um bem para outro onde a prestação de serviços passa a ser o mais importante. Os programas de computação permitirão expandir a utilização dos microprocessadores ao viabilizar novas aplicações respeitando os limites físicos impostos pela atual tecnologia baseada no silício.

A inovação permanente, que é um apanágio tanto das indústrias de hardware como nas de software, será complementada pela corrida em direção à personalização e customização dos programas para computadores.

Quem conseguir oferecer o produto certo, para a pessoa certa, na hora certa e pelo preço adequado conseguirá sobreviver no mercado, que será ainda mais competitivo porque o número de criadores de softwares tende a crescer na medida em que o desenvolvimento de um programa para computadores exige muitíssimo menos capital inicial do que para montar uma fábrica de processadores.

Veja o artigo na Web do Observatório da Imprensa teclando aqui

viernes, 8 de abril de 2011

Elogio de La Lectura (fragmentos de Vargas Llosa)

(…) Algunas veces me pregunté si en países como el mío, con escasos lectores y tantos pobres, analfabetos e injusticias, donde la cultura era privilegio de tan pocos, escribir no era un lujo solipsista. Pero estas dudas nunca asfixiaron mi vocación y seguí siempre escribiendo, incluso en aquellos períodos en que los trabajos alimenticios absorbían casi todo mi tiempo. Creo que hice lo justo, pues, si para que la literatura florezca en una sociedad fuera requisito alcanzar primero la alta cultura, la libertad, la prosperidad y la justicia, ella no hubiera existido nunca. Por el contrario, gracias a la literatura, a las conciencias que formó, a los deseos y anhelos que inspiró, al desencanto de lo real con que volvemos del viaje a una bella fantasía, la civilización es ahora menos cruel que cuando los contadores de cuentos comenzaron a humanizar la vida con sus fábulas. Seríamos peores de lo que somos sin los buenos libros que leímos, más conformistas, menos inquietos e insumisos y el espíritu crítico, motor del progreso, ni siquiera existiría. Igual que escribir, leer es protestar contra las insuficiencias de la vida. Quien busca en la ficción lo que no tiene, dice, sin necesidad de decirlo, ni siquiera saberlo, que la vida tal como es no nos basta para colmar nuestra sed de absoluto, fundamento de la condición humana, y que debería ser mejor. Inventamos las ficciones para poder vivir de alguna manera las muchas vidas que quisiéramos tener cuando apenas disponemos de una sola.

Sin las ficciones seríamos menos conscientes de la importancia de la libertad para que la vida sea vivible y del infierno en que se convierte cuando es conculcada por un tirano, una ideología o una religión. Quienes dudan de que la literatura, además de sumirnos en el sueño de la belleza y la felicidad, nos alerta contra toda forma de opresión, pregúntense por qué todos los regímenes empeñados en controlar la conducta de los ciudadanos de la cuna a la tumba, la temen tanto que establecen sistemas de censura para reprimirla y vigilan con tanta suspicacia a los escritores independientes. Lo hacen porque saben el riesgo que corren dejando que la imaginación discurra por los libros, lo sediciosas que se vuelven las ficciones cuando el lector coteja la libertad que las hace posibles y que en ellas se ejerce, con el oscurantismo y el miedo que lo acechan en el mundo real. Lo quieran o no, lo sepan o no, los fabuladores, al inventar historias, propagan la insatisfacción, mostrando que el mundo está mal hecho, que la vida de la fantasía es más rica que la de la rutina cotidiana. Esa comprobación, si echa raíces en la sensibilidad y la conciencia, vuelve a los ciudadanos más difíciles de manipular, de aceptar las mentiras de quienes quisieran hacerles creer que, entre barrotes, inquisidores y carceleros viven más seguros y mejor.

La buena literatura tiende puentes entre gentes distintas y, haciéndonos gozar, sufrir o sorprendernos, nos une por debajo de las lenguas, creencias, usos, costumbres y prejuicios que nos separan. Cuando la gran ballena blanca sepulta al capitán Ahab en el mar, se encoge el corazón de los lectores idénticamente en Tokio, Lima o Tombuctú. Cuando Emma Bovary se traga el arsénico, Anna Karenina se arroja al tren y Julián Sorel sube al patíbulo, y cuando, en El Sur, el urbano doctor Juan Dahlmann sale de aquella pulpería de la pampa a enfrentarse al cuchillo de un matón, o advertimos que todos los pobladores de Comala, el pueblo de Pedro Páramo, están muertos, el estremecimiento es semejante en el lector que adora a Buda, Confucio, Cristo, Alá o es un agnóstico, vista saco y corbata, chilaba, kimono o bombachas. La literatura crea una fraternidad dentro de la diversidad humana y eclipsa las fronteras que erigen entre hombres y mujeres la ignorancia, las ideologías, las religiones, los idiomas y la estupidez.

(…)

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